sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Sopas que curam



Falo do caldeirão dos caldos encantados, poderosos, imbatíveis. Mais para alquimia...E não eram alquimistas, os cozinheiros?




 
Eu amo sopas. Acredito no poder restaurador da sopa feita com bons produtos e respeito às características de cada ingrediente. Mais ainda, acredito na capacidade de transformação do alimento preparado com o coração leve e puro. É comida que cura,  corpo e alma. Mesmo para quem pensa que não tem alma...ou para quem não dá a mínima para o corpo.


Selecionei algumas que não são sopas-remédio, embora possam ser encaradas assim. De certa forma, vale lembrar o que disse Alexandre Dumas no seu Grande Dicionário de Culinária, a respeito de uma receita de caldo de galo: "é cozinha de farmacêutico, mais do que cozinha de cozinheiro"...


Essas sopas têm seu valor, sua função, seu mérito. São inspiradas em várias tradições, desde a macrô até a ayurvédica, cada uma com uma qualidade: umas são capazes de equilibrar energias, outras, humores ou sensações.




Hoje, a sopa é o prato principal. A base, o bom caldo. Numa postagem do mês de junho - "O que dá um bom caldo?" - passei os segredos. Em outro post, "Emagrecer é sopa", também de junho, falo de algumas possibilidades. 


As sopas, por serem predominantemente líquidas, não exigem do processo digestivo uma jornada de esforço. Para quem quer perder peso, substituir uma refeição por sopa já é meio caminho andado. Funciona mesmo. 


Vale dizer (ou lembrar?) que as sopas também devem ser tomadas no verão. A temperatura interna do corpo reconhece as sopas como confort food.  É verdade que as sopas frias valem por saladas, mas as que são servidas quentes preparam os sucos digestivos, os tecidos, avisam as células de que não há agressão a caminho. Para os que só acreditam vendo, ou comendo, recomendo a experiência.   


A partir de fevereiro de 2012, para quem não é muito chegado a arregaçar as mangas e encostar o umbigo no fogão, proponho uma cura: uma semana de sopas prontas, embaladas em copos individuais. Sete sopas, uma para cada dia! Quem se interessar pode pedir o menu de sopas da semana por email: senraygarcia@gmail.com , e encomendar o que mais apetecer.


As sopas já estão no meu caldeirão!













terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Tem francesinha no salão...

Nada é o que parece. A francesinha em questão, por exemplo, é portuguesa, do Porto, e é um sonho de... sanduíche!


Tanta coisa é assim na vida! Comemos tanto gato por lebre, acreditamos na primeira leitura, nos sinais exteriores de riqueza, saúde, inteligência, educação, espiritualidade... E o engano sempre frustra. 


No nosso caso, claro, a francesinha-sanduíche não decepciona ninguém porque é um super-mega-hiperbólico projeto de arquitetura culinária. Em cima de um pão cortado ao meio equilibram-se um bife, um bom pedaço de linguiça, uma fatia de queijo, e o molho. As variações acrescentam ovo e presunto. E, sempre, um misterioso molho picante, à base de tomate e cerveja. Vamos experimentar.








Já andei conversando com uns amigos portugueses pra avaliar as versões do molho. Há o consenso de que refogando-se alho e cebola no azeite e acrescentando tomate ou sua polpa, cerveja, aguardente, vinho do Porto e vinho branco seco (a gente já fica embriagada só de juntar os ingredientes!)a um caldo básico de carne, deixando-se reduzir e apurar os sabores, juntando uma pimentinha, tem-se a chave do segredo. 


O bife e a linguiça são grelhados, o queijo vai ao topo do sanduíche pra derreter sob um grill muito quente, e gratinar. Rega-se a francesinha com o molho quente, abre-se aquela cerveja gelada (a melhor do mercado, s.f.f., sim, se faz favor!), que acompanha bem o prato, e chamam-se uns amigos pra ajudar, porque pode ser muita areia pro nosso estomagozinho. 




Diz a lenda que o senhor português que criou esse sande, pois é por "sande" que atendem todos essas criações em Portugal, do club ao hot dog, inspirou-se no croque-monsieur. E inspiração é assim: "You can find inspiration in everything", título do livro do Paul Smith, criador pra ninguém botar defeito, senhor das listras nos sapatos, nas roupas, nos carros, cadernos, carteiras, cadeiras...ah, mundo do consumo, do luxo, do bom gosto!...Mas voltando aqui para o nosso quadrado, a criação é possível desde que a gente saiba se inspirar, que olhe as coisas, ouça os sons, e leia as palavras com olhos abertos, ouvidos desentupidos, preconceitos e dogmas trancados a chave no porão. Aí, a vontade de copiar sem esforço até passa, sabiam? O fluxo criativo vem.  Se quiserem, posso fazer um megaupload...ah, não , parece que tiraram do ar...


Se a gente juntar a essa abertura para a criação um coração sem mágoas retidas, é festa...e não era Paris uma festa? Por falar nisso, já leram o livro do Sérgio Augusto, "E foram todos para Paris"? 


O fato é que com francesinha no salão, como canta a marchinha, é pré-carnaval retrô, então é festa mesmo! 


PS: não abuse do álcool, da linguiça, da carne, que é fraca...

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Caramba, carambolas!



Não é sempre que encontramos, tampouco assim na nossa rua, pendendo dos galhos. Pra quem tem sorte...acontece uma vez na vida. 


E quem não tem carambola, caramba, faz de qualquer outra fruta, mas faz.


A ideia é coroar um jantar com uma sobremesa leve, fresca, sutil. Mousse de carambola é tudo isso, e mole de fazer: primeiro, cortei as carambolas em estrelas (a forma é linda e já deixa todo mundo pra cima, sonhando com um céu perfeito, astros a favor, ventos favoráveis). 


Fiz uma calda de açúcar com 1 xícara de açúcar para 3 de água pura, que se não se pode buscar na fonte real, vale a mineral do mercado. Ali, fervi as estrelas, adicionando um anis estrelado e dois cravinhos. A calda fica perfumada, discretamente aromatizada. 


Bati umas 6 claras em neve, até formar picos. Fui vertendo a calda fervente pelas paredes da tigela, sempre com a batedeira ligada, em velocidade média. Está pronto o merengue italiano.


Segundo passo: misturei uma xícara de mascarpone com uma xícara de creme fresco, batendo ligeiramente, para que fiquem bem incorporados e aerados. 


Dissolvi 2 colheres de chá de gelatina agar-agar num pouco d'água fria e levei ao fogo até que ficasse morna. Juntei à mistura de mascarpone, com gestos amplos e ascendentes. Está pronta a mousse.




Servi como recheio de um mil folhas, com as estrelinhas de carambola entre uma camada e outra. Ficou delicado e delicioso.


P.S. A massa do mil folhas, folhada como sugere o nome, não é um bicho de sete cabeças. Há formas simples de prepará-la, e com resultados bem simpáticos. Basta não ter medo da sombra ou ter mesmo o espírito da aventura e da labuta.  


Anotem aí: 500g de farinha de trigo peneirada; 300g de manteiga; pitada de sal; 1 xícara de água fria; 80g de manteiga derretida.  Misture a manteiga derretida, água e sal. Derrame sobre a farinha, e bata até que forme uma massa homogênea e firme. Forme um quadrado, embrulhe em filme plástico e deixe na geladeira por 2 horas.
Polvilhe a superfície de trabalho com um pouco de farinha e abra a massa com 1cm de espessura. A manteiga, também formando um quadrado menor, com a adição de um pouquinho de farinha, é colocada sobre o pedaço de massa. Agora, dobre a massa sobre a manteiga, como um envelope, e vá abrindo a massa com um rolo de pastel até obter uma "folha" de uns 9mm. Ponha num tabuleiro, polvilhe com açúcar, cubra com papel manteiga e, por cima, ponha uma placa ou uma grade. Asse por 25 minutos, a 180 graus. 
Dá trabalho, mas os louros da vitória também!   

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

É made in china, e é bom!!!







O segredo dos magros, dos magros com saúde, bem entendido, está no equilíbrio perfeito do yin e do yang. Mesmo quando o magro nunca ouviu falar no conceito da medicina tradicional chinesa...


Pra quem não quer muitos detalhes, mas se ligou na ideia, o resumo: vamos comer os cinco sabores balanceados, amargo (vinagre, cacau, vinho, casca de limão e tangerina, cúrcuma), ácido (vinagre, azeitona, suco de limão), doce (mel, açúcar cristal, coco), salgado (algas, molho de soja, missô, sal marinho) e pungente (gengibre, alho, cebola, pimentas, ervas), em refeições que componham-se de 10% de carnes e 90% de vegetais, e uma boa quantidade de arroz fumegante.  


A dieta chinesa, ao considerar os cinco sabores e a harmonia entre eles, e ao reconhecer que cada alimento tem uma qualidade a ser realçada, resulta numa profusão de cores, numa variedade incrível de sabores, usando pouca gordura, nenhum laticínio, quase nenhum alimento processado. É a cozinha do dia, do que está disponível na feira.  


Num wok (de ferro) bem quente, com pouco azeite, passo tirinhas de carne, frango ou pato. Reservo. Acrescento mais um pouquinho de azeite e refogo os vegetais, em fogo alto: acelga, cenoura, cebola, repolho, cogumelos, pimentão, gengibre picadinho, cúrcuma...o que vier. 


Junto um pouco de missô dissolvido em água quente, ou só água quente, ao final. É importante que o molho seja abundante. Acrescento mais água, sempre. Gosto que a base seja líquida.


Abaixo o fogo, deixo cozinhar uns minutinhos, para que os legumes não percam a textura firme. Salpico de cebolinha picada e gergelim preto e branco.


Sirvo com arroz sem sal, sem gordura, feito na panela elétrica, mas também fica ótimo cozinhar o arroz em água pura, numa boa panela de fundo grosso.




É bom, emagrece sem neurotizar, agrada aos olhos e à boca, e não aceita falsificações: TEM QUE SER FEITO NA HORA!


Pra acompanhar, chá verde. Muito chá verde, litros, porque acalma, restaura, purifica. 







segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

French toast, pain perdu e rabanada são a mesma pessoa?





Alguns não podem com uma rabanada, quer dizer, se perdem por um bom pain perdu, outros deixam passar...Portanto, vale a máxima: gosto não se discute. E quanto à pergunta-já-resposta, sim, são a mesma pessoa. Fatias de pão dormido mergulhadas num leite perfumado com fava de baunilha ou licor, passadas no ovo batido com açúcar, fritas em boa manteiga derretida atendem pelos três nomes, dependendo da origem, controlada ou não. Podem vir acompanhadas de um creme, geléia, compota de frutas ou sorvete, quando são servidas como sobremesa, ou puras, em sua sagrada magnitude.


Mas, hoje, o pain perdu é outro. Vamos mudar o seu destino: fazer uma rabanada salgada, que vai ser toda a graça da nossa salada verde. O princípio, posto que a doce é nossa referência, será o mesmo. 


Escolho um bom pão, o melhor do pedaço. Corto em fatias grossas. Bato uns 2 ovos frescos, bem caipiras, com ervas. Hoje, uso as secas: segurelha e cebolinha. Sal e pimenta-do-reino moída na hora. Mergulho as fatias de pão na mistura de ovos e ervas e frito-as num pouco de azeite. Bem pouco.


Faço um vinagrete com 6 colheres de azeite, 2 de suco de laranja, 1 colher de chá de mostarda, 1 colher de chá de mel, sal e pimenta. 


Já na saladeira, com o mix de folhas a postos, rego a salada com o vinagrete de laranja, disponho as rabanadas sobre as folhas, salpico com lascas de um bom parmesão...e penso que nem tudo está perdido!