domingo, 29 de abril de 2012

A minha salada grega





Quando falo da minha salada grega, mais do que reivindicar uma autoria, quero evocar suas inúmeras versões. Gregas e baianas! Nenhuma tragédia. Hoje, querer ser original é quase anacrônico... 


O importante é ter espírito mediterrâneo, escolher os bons produtos, apreciar seu frescor, sua frugalidade, e sem ofender a salata horiatiki, ancestral de todas as saladas gregas que encontramos pelos restaurantes do mundo. 


Azeitonas Kalamata (nada radical, escolha a grega possível, a preta...), queijo feta (já comprei bons queijos feta aqui: o vendido na feira orgânica de Ipanema, produzido em Maricá, o do Paulo Capri, feito em Minas), uns bons tomates, o melhor azeite, um bom pepino...É uma salada sem folhas que deve ser temperada quase na última hora.







Gosto de deixar as azeitonas inteiras, para poder mordê-las e sentir o quanto estão suculentas...Os tomates, corto em 8; o pepino, prefiro os mais finos, sem tantas sementes, sempre com a casca, ou parte dela, cortado em cubos; um pimentão verde pequeno, sem as sementes, cortado em rodelas bem finas; um molho de salsa (e também um punhado de folhas de hortelã), pimenta-do-reino, sal - devagar, verificando o quanto o seu feta já é salgado! -, um despejar generoso de azeite extra-virgem e de uma a três colheres de vinagre de vinho tinto. Tudo depende do tamanho da sua salada e da sua fome. 




Para acompanhar, um pão bem bom e bem grande. No Rio de Janeiro, procure na Carandaí, no Guérin, na esquina...Meu pai amava comer salada grega, ouvindo  Maria Callas... Morreu cedo, mas sabia das coisas.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Hoje é dia de polenta



A polenta italiana é feita de farinha de milho amarelo e de milho branco. Angu, a nossa polenta, é feito de farinha de milho. Ponto. 


No Brasil, o angu é comida pra lá de popular, sempre acompanhando o feijão e a verdura. Comida de trabalhador, peão, lavrador.  Já a polenta, de uns tempos pra cá, chegando da Europa, passou a frequentar as mesas finas em que o angu não era benvindo. Mas, ok, acredito que é também o jeito diferente de se comer a polenta que abriu as portas, e descruzou talheres. E é verdade que nós, atavicamente com espírito de colonizados, apreciamos e achamos chique o que nos chega do primeiro mundo. Subdesenvolvido é assim mesmo. Mas um dia, tenho fé, isso muda.


Hoje é dia de polenta, a italiana. Polenta como prato principal. Fervo 1 litro d'água. À água fervente, acrescento sal, e nela despejo em chuva uns 250g da polenta. Vou mexendo devagar, em fogo baixo, até que esteja cozida. Nesse ponto, unto uma travessa com azeite e ponho a polenta em camada fina. Sobre ela, um molho de tomate feito com tomates maduros, sem pele e sem sementes, refogados num pouco de azeite com meio dentinho de alho (sem os germes), sal e pimenta-do-reino, algumas folhinhas de manjericão fresco. Sobre o molho de tomate, mozzarella de búfala cortada em rodelas. Por cima, queijo parmesão. Do bom, claro. E repito as camadas. Deixo a polenta descansar na travessa por uns quinze minutos. Levo ao forno por quinze ou vinte minutos. Espero uns outros quinze minutos para servir a polenta quente ainda, mas sem queimar línguas afoitas.


Polenta é prato que se come devagar, com a consciência de sua substância, acompanhada de um bom vinho tinto. E sem culpa, por favor. 


A tutti, buon appetito!

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Bolinho de aipim, vai?



Aipim, mandioca ou macaxeira. Muda o nome, mas o DNA é o mesmo. Dizem que no código genético dessa raiz que faz sucesso com o povo de cá e o de mais além está dito: ninguém lhe resistirá. Pode ser... e há quem afirme que alguns seres humanos também são assim. É, merece uma reflexão.


Contam os historiadores que no séc. XVII, alguns índios Tupinambá foram levados à França para que fossem exibidos como os habitantes do novo mundo conquistado, mesma época da introdução na Europa de um tubérculo originário do Brasil. Daí, um nome levou ao outro. Os Tupinambás e o topinambur (Helianthus tuberosus) têm a mesma data de estreia na Europa, e ambos escaparam da extinção. Os índios sofrem até hoje com o desrespeito a seu povo, sua cultura e seu território. Por muito pouco não foram todos dizimados. E o tubérculo desapareceu das panelas por muito tempo...até que uma onda de anciens légumes  o recuperou. Hoje, o topinambur é ingrediente cult, resgatado por chefs de toda a Europa.  Dizem até que leva, em inglês, o nome de alcachofra de jerusalém, não sendo nem alcachofra, nem da tal cidade. Não sei qual é a lógica... É, de fato, uma espécie de batata, com sabor adocicado, bom pra preparar sopas, purês e saladas. O mais curioso é que aqui não há, logo aqui, solo em que se plantando tudo dá...


Voltemos, então, à mandioca. Esta, sim, há, e em abundância. Além da tapioca e da farinha para todas as farofas, do purê-mil-vezes-melhor-que-o-de-batata-inglesa, dos nhoques ou simplesmente fritos, gosto muito de fazer uns bolinhos de aipim recheados com cogumelos shiitake, mas vale rechear com carne moída, linguiça, o que vier.


Cozinho em água e sal. Espremo como se fosse fazer um purê. Junto um ovo inteiro. Se precisar, e só se precisar mesmo, acrescento um pouco de farinha de trigo. Às vezes, como hoje, só usei a farinha de trigo para polvilhar as mãos e formar os bolinhos. O shiitake foi picado, e vai ser regado com um bom azeite. Tempero com sal e pimenta-do-reino, mais uma pontinha de alho e salsinha. Uma rápida salteada e, ao final, suco de meio limão. Sirvo como aperitivo ou como entrada, acompanhando uma salada ou uma sopa, dependendo do apetite da cozinheira. 





terça-feira, 10 de abril de 2012

Tá ruço? Não, tem estrogonofe russo!!!

Que beleza abrir os trabalhos de um jantar digno de príncipes russos com uns piroshkis, poder beber um shot de vodca bem gelada acompanhando um caviar...Beluga, sim senhor, por que não? 


Quando o luxo bate à sua porta e vai parar na sua mesa comunitária, por obra do destino, relaxe. É de bom gosto. 




A bonequinha russa da foto, na verdade um abafador de chá, é uma relíquia dos anos sessenta. Mas não é que o ubíquo estrogonofe, hoje presente em qualquer botequim brasileiro, não chegou por aqui Stroganov ou Stroganoff, também nessa época? 


De lá pra cá, sei que sofreu algumas violências, transformando-se até numa mistura pouco confiável de picadinho de carne com molho de ketchup e creme de leite de caixinha ou lata(socorro!).


Hoje, para os carnívoros unidos em torno dessa boa causa, recupero a receita original, a mais russa: em primeiro lugar, a carne deve ser cortada em tiras finas, apenas salpicadas de sal e pimenta-do-reino. 


Numa frigideira grande, wok ou panela, vou saltear a carne, em fogo alto, num pouco de manteiga. Na mesma panela, douro umas cebolas com cogumelos de paris frescos e fatiados. Depois, junto-os à carne reservada. Rego o conjunto com um cálice de conhaque, e flambo. Acrescento o creme de leite fresco, uma colher de boa mostarda Dijon e salsinha picada. Sirvo bem quente, com arroz branco fumegante, como se fosse um preparo para enfrentar uma travessia transiberiana.


Assim, numa versão retrô, mas genuína, o estrogonofe é ideal para um jantar grande, com muitos amigos, de todas as idades e ideologias. Mesmo no outono, com as águas de março fechando o verão.