quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Na prática, a madeleine é outra...



Proust imortalizou a madeleine. O rei Estanislau Lekzinski da Polônia imortalizou a jovem camponesa de Commercy, Madeleine, autora dos bolinhos que o encantaram em sua passagem pela França. Acabou levando-os para Versalhes, onde vivia sua filha Marie, casada com Louis XV e, mais tarde, para Paris.  A madeleine, o bolinho, caiu no gosto do rei e do reino...é essa a história.

Melhor, então, dar a palavra a Proust, que tão bem descreveu a delícia: "esse marisco da pâtisserie, tão untuosamente sensual sob suas pregas severas e devotas"... 

São mesmo sensuais esses bolinhos que derretem na boca, molhados ou não no chá. Sejam classicamente perfumados com raspas de limão ou laranja, com ares orientais ao serem aspergidos de água de flor de laranjeira, seduzidos pela doçura do mel ou pela pungência do cacau.


Num precioso caderno de receitas escritas por Celisa Décourt, uma brasileira casada com um francês que veio para os trópicos fundar uma família, encontrei até boas "magdalenas parisienses".  A verdade é que já testei inúmeras versões de madeleines que renderiam páginas e páginas. E tenho as minhas preferidas... 

Hoje, escolhi uma delas, a do chef André Lerch, uma clássica: 105g de farinha, 1/2 colher de chá de fermento em pó; 2 ovos, em temperatura ambiente; 100g de açúcar; raspas de um limão; 2 colheres de essência de baunilha; 70g de manteiga sem sal, derretida. Bata os ovos com o açúcar, por uns 4 minutos. Acrescente as raspas de limão e a baunilha. Junte os ingredientes secos, seguidos da manteiga derretida. Cubra com filme plástico e deixe descansar na geladeira por - pelo menos - 3 horas. Asse por 13 minutos em forminhas untadas e polvilhadas de farinha. Desenforme e sirva-as ainda mornas ou em temperatura ambiente.

Declaro, ainda, que Proust, em quadrinhos, na adorável adaptação de Stéphane Heuet, tradução de André Telles, é a melhor introdução à leitura do romance Em busca do tempo perdido. Para adolescentes e adultos, pode ser o primeiro contato com  os longos parágrafos proustianos e com o poder evocador de lembranças da madeleine. O certo é que a primeira madeleine ninguém esquece.

PS: reproduzi a receita, mas vale uma ressalva: não gosto de essência de baunilha. Quando quero perfumar algum creme ou massa com baunilha, uso as favas. Do Taiti ou de Madagascar. São caras, mas vale a diferença. E a gente sempre pode fazer o açúcar de baunilha - é só guardar uma fava dentro do pote de açúcar!


Um comentário:

  1. Não esqueço a primeira, nem a segunda ou a terceira madeleine! Sou absolutamente apaixonada por esse bolinho e essa sua postagem me deu água na boca!!
    Adorei!
    Bjos

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