A viagem de barco é quase sempre difícil, desafiadora, mas muito prazerosa. Pareceu paradoxal? E é mesmo.
Estar em pleno oceano, livre, entre o céu e o mar, é experiência que não se esquece! Nossa consciência fica mais líquida, o inconsciente aflorado. Perigoso, maravilhoso.
Mesmo com uma mente em transformação, o sol por testemunha, ou a lua, de barriga roncando não se pode ficar, e cabe - entre uma manobra e outra - preparar um rango (desculpas pela informalidade datada, mas a ideia de navegar me remete para um tempo de aventuras) que restaure nossas forças. Ao fogão, marinheiro!
A mais bem equipada das cozinhas de barco é, ainda assim, precária. O balanço do mar ensina mais do que a nadar, posso garantir. Cozinhar, quer dizer, todo o processo de lavar, cortar, ferver...em constante movimento é tarefa que exige praticidade, concentração, e bom senso.
Pra os de primeira viagem, meu mantra: panela de marinheiro é wok. Isso não se discute. O wok é uma espécie de lava-passa-cozinha que vai ao fogo e resolve tudo de uma tacada só. Ter um wok em terra firme já é necessário; no mar, imperioso. Além de garantir comida saudável e fresca, o que vale ouro, com o wok em punho, as pernas firmes, os joelhos ligeiramente flexionados, podemos fazer um fogareiro "roscoff" parecer um Viking de 9 bocas. É entrar no balanço, pedir permissão à rainha Iemanjá, e cantar o ponto.
Para os carnívoros, a milhas de distância de qualquer açougue, sugiro um salteado de shiitake, o "bife" dos vegetarianos. Um pouco de azeite no wok, os cogumelos frescos ou reidratados cortados em lâminas, um dente de alho amassado para perfumar sem exageros, salsinha ou manjericão, sal e pimenta-do-reino.
Para os que amam peixe, pescam e cozinham em pleno mar, a opção é um couscous com legumes e peixe grelhado. Os filés são temperados com sal e pimenta, e vão ao fogo com um fio de azeite. Os legumes picadinhos são assados com azeite, sal e ervas (na falta de um forno, no wok também fica ótimo). Os grãos do couscous são escaldados com água misturada a uma colher de sopa de cúrcuma. Ao final, junto o couscous aos legumes, sirvo em tigelas com os filés de peixe por cima. E se a bordo tiver um galhinho de coentro, cebolinha ou salsa, vale esse toque de frescor. No mar, tudo que é da terra faz falta.
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